Instituto IRIS

PROGRAMAS E PROJETOS

TREINAMENTO CÃO-GUIA

O Instituto IRIS atua com o desafio de aumentar o acesso das pessoas que querem um cão-guia. Para isso, a organização conta com parcerias internacionais e nacionais, que conduzem um treinamento complexo e minucioso por, aproximadamente, dois anos.

A utilização do cão no processo de socialização da pessoa com deficiência visual não é recente. O relato mais antigo sobre cães-guia, em versos populares, data do século XVI; há, também, citações sobre esses animais em livros especializados em educação para cegos do século XIX. A primeira escola moderna de treinamento de cães-guia surgiu na Alemanha, por iniciativa do médico Gerhard Stalling, após a Primeira Guerra Mundial. Os cães auxiliavam na mobilidade de veteranos de guerra, que ficaram cegos em combate, em função de gases venenosos. A iniciativa foi seguida pela Grã-Bretanha e Estados Unidos. No Brasil, o cão-guia surgiu algumas décadas depois.

FASES DA FORMAÇÃO DO CÃO-GUIA

A primeira etapa do processo de formação do cão-guia é a rigorosa seleção do cachorro, seguindo critérios genéticos e comportamentais. Essa fase é caracterizada pela observação dos filhotes até a oitava semana de vida a fim de identificar os animais com boa saúde, bom temperamento e espírito de liderança.

Antes de chegar ao treinamento intensivo, o cão precisa ser socializado. Para isso, os filhotes são recebidos por famílias voluntárias que conduzirão um processo de educação inicial. Nessa segunda etapa, aos três meses de vida, há o chamado acolhimento familiar por período que varia de um ano a um ano e três meses. Na prática, a família leva o cachorro a todos os locais: shoppings, transporte público, parques, escritórios, entre outros. O objetivo primordial é acostumar o cão à vida sociedade; a enfrentar situações do cotidiano. A família acolhedora pode ter qualquer perfil – casais (com ou sem filhos), solteiros, famílias grandes ou pequenas. O cão passa a ser parte da família e a acompanha em todos os lugares, aprendendo sobre o ser humano e a maneira de viver. Após o período de um ano de socialização, o cão retorna para a escola e a família pode habilitar-se para receber um novo filhote.

Após o período de socialização, o cão entra na fase de treinamento. Na escola, a nova fase de vida do cão está centrada no treinamento diário – por um período de três a cinco meses – no qual receberá instruções especiais com profissionais com formação técnica única no país. Nesta etapa, profissionais especializados ensinam ao animal comandos necessários para que o cachorro consiga guiar um cego: desviar de obstáculos, identificar degraus, parar nas guias, entre outros. Durante esse aprendizado, o cão deve seguir um plano todos os dias para que se acostume com as dificuldades e se mantenha focado. Ele passa a usar uma guia – um tipo de “colete” com alça rígida – que serve para os comandos dados pelo dono. O cão assimila que esse acessório indica que está trabalhando. Ao tirá-lo, o condutor indica que o animal está liberado para se comportar como um pet.

Enquanto o animal está na fase de treinamento, inicia-se outra etapa simultaneamente – a escolha do futuro usuário. Esse contato é personalizado: cada cão é indicado para o usuário, respeitando as características comportamentais de ambos. Um real trabalho de análise criteriosa de compatibilidade; a união cão-guia e cego é praticamente um casamento arranjado. “Encaminhamos o cachorro com a personalidade mais próxima do futuro parceiro. Se a pessoa com deficiência visual é agitada, caminha mais rápido, sabemos que será preciso um cão com as mesmas características”, afirma Moisés Vieira dos Santos Júnior. O instrutor e cofundador do Instituto IRIS acrescenta que é feita uma entrevista com cada interessado para definir um perfil específico e, assim, encaminhar o cão em sintonia com esse estilo de vida.

Depois da etapa do treinamento, o cão-guia passa pelo período de adaptação com o novo dono. Essa última fase do treinamento é o “processo de transferência”, no qual o time de graduados (cão e usuário) passa a ser treinado nas áreas onde decorrerá a vida conjunta da dupla. Nesta fase, o cão e a pessoa com deficiência visual passam por treinamentos para alinhar o ritmo e a convivência de ambos. Cão e condutor aprendem a fazer a leitura da comunicação corporal: enquanto o cão aprende a receber os comandos; o tutor aprende a fazer a leitura corporal do cão, a seguir os movimentos do animal. Após a adaptação, os novos companheiros seguem sozinhos, porém, é feito o acompanhamento periódico com o treinador para eventuais ajustes que sejam necessários.