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2017 - A tecnologia assistiva e práticas de inclusão no Brasil que dá certo

Imagem 2017 - A tecnologia assistiva e práticas de inclusão 
no Brasil que dá certo

A Folha de S. Paulo está conduzindo um projeto bem interessante de conteúdo: o brasil que dá certo. Na edição de 23 de fevereiro, uma matéria chamou a minha atenção: Sensores deixam ruas amigáveis para idoso e pessoa com deficiência. A reportagem de Everton Lopes Batista fala de uma iniciativa em Curitiba, onde um sistema instalado em 39 cruzamentos – todos próximos a hospitais e lugares com maior circulação de idosos – aumenta o intervalo de travessia dos pedestres no semáforo, a partir da leitura de cartão de transporte que oferece isenção da passagem de ônibus para maiores de 60 anos e pessoas com deficiência. A iniciativa é realmente bem-vinda e espero que seja ampliada. Idosos e pessoas com deficiência ocupam todos os pontos das cidades; não apenas os hospitais.

A reportagem traz, ainda, a iniciativa da Vii Bus, um sistema para pontos de ônibus que traduz em braile e em áudio, todas as informações necessárias para usar o transporte público sem depender de outras pessoas. Na prática, sensores que se comunicam por radiofrequência são instalados em um painel no ponto de ônibus; o usuário seleciona o seu destino e um botão de alerta sonoro avisa quando o ônibus escolhido se aproxima. O motorista é também avisado que deve parar, pois há uma pessoa com deficiência visual aguardando no ponto. A prefeitura de Itatiba está negociando com a empresa para a instalação da solução tecnológica.

Notícias como essas mostram que os negócios de impacto social focados na tecnologia assistiva promovem uma verdadeira revolução na inclusão de pessoas com deficiência. Tenho me posicionado, há vários anos, sobre a importância de o tema ser pauta de políticas públicas nacionais. Em reunião com Thiago Borges, assessor do Departamento Nacional de Trânsito, falamos sobre inclusão e acessibilidade – sobretudo do semáforo sonoro.

Uma das principais dificuldades das pessoas que têm deficiência visual é justamente a travessia de ruas; ou seja, a travessia hoje não é feita com segurança nem tampouco autonomia. Muitas vezes, os próprios instrutores de orientação e mobilidade disseminam entre os alunos a importância de aguardar o auxílio de terceiros para fazer a travessia de ruas. Entretanto, essa prática não se coaduna com a aspiração das pessoas com deficiência; cidadãos que querem viver com o maior grau de autonomia possível. 

O grau de dificuldade de atravessar uma rua para quem tem deficiência visual depende de muitos fatores: a complexidade de determinado cruzamento e se tem muitas mãos de conversão ou não. Considerando que a pessoa com deficiência visual utiliza a audição para fazer a leitura do tráfego, a poluição sonora também interfere bastante nessa atividade. Se, por exemplo, houver uma construção ou uma música tocando em volume alto, a pessoa não poderá ouvir com clareza o movimento dos carros ou a direção para a qual os automóveis estão virando. Por isso, parece uma boa prática que se regulamentasse uma distância mínima dos pontos de travessia para certos volumes de barulho. 

O semáforo sonoro também precisa ter a implantação acompanhada de uma intensiva campanha de conscientização dos condutores de veículos automotores. É importante ressaltar que, nesse cenário, as pessoas com deficiência visual passam a confiar, quase que exclusivamente, no alerta sonoro para fazerem a travessia. Outros pontos importantes a serem pensados sobre o tema são a sinalização e padronização da localização do semáforo e do dispositivo de acionamento; a padronização dos sons que indicam o sinal verde, vermelho ou amarelo – preferencialmente, acompanhado esse sinal sonoro de uma orientação de voz sintetizada para informar em que fase se encontra o semáforo. 

Por fim, talvez a inclusão de uma questão obrigatória sobre a temática nos testes para carta de habilitação seja uma forma eficaz de conscientizar os condutores sobre as necessidades especiais desse grupo de pedestres.

Enumero as seis principais recomendações que enviei ao Governo Federal.

1. Utilizar experiências bem-sucedidas em outros países, em especial aqueles cuja arquitetura e dinâmica urbana sejam mais parecidos com a do Brasil. Entender o desenvolvimento de tecnologia assistiva é um caminho muito importante para evoluirmos.

2. Padronizar a sinalização sonora para indicar cada fase do semáforo não deixando margem para confusões de interpretação por parte das pessoas com deficiência visual.

3. Cuidar da adequada sinalização podotátil da localização do poste do semáforo, bem como cuidar para que o dispositivo de acionamento do sinal de pedestre esteja sempre na mesma posição, facilitando que a pessoa com deficiência visual o encontre.

4. Fazer campanhas intensivas de conscientização voltada para os condutores de veículos automotores, sobretudo no que diz respeito à maior vulnerabilidade dos pedestres com deficiência visual ou outras deficiências.

5. Incluir questões específicas nos testes para carta de habilitação sobre o tema.

6. Regulamentar, com maior rigor, a poluição sonora em pontos próximos às faixas de travessia de pedestre e dos semáforos sonoros.

* Thays Martinez

Nascida em São Paulo, em janeiro de 1974, Thays Martinez é formada em Direito pela Universidade de São Paulo (USP). A advogada e palestrante possui especialização em direito penal e interesses transindividuais; e MBA em Marketing de Serviços. Thays, deficiente visual desde os quatro anos, é fundadora do Instituto IRIS. A advogada é consultora de empresas e ministra palestras em empresas (públicas e privadas) e em estabelecimentos de ensino, abordando temas como motivação, mudança, inovação e superação; Direito; acessibilidade; e inclusão social. A autora do livro Minha vida com Boris – A comovente história do cão que mudou a vida de sua dona e do Brasil” (Globo Livros).

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